Aprendendo sobre as corujas: Visão

Primeiramente, as corujas são os animais noturnos que sofreram a melhor adaptação visual para caçarem sua presa com pouca iluminação. As corujas podem enxergar perfeitamente até 0.000000008 velas de iluminação, ou seja as corujas podem enxergar na mais escura das noites, mesmo sem a presença de qualquer fase visível da lua. O olho da coruja se tornou alongado através do desenvolvimento do enorme alargamento da córnea, pupilas e cristalino, que permite maior entrada de luz para uma maior retina, assim as corujas podem localizar suas presas numa distância maior.


Os olhos das corujas são 2,2 vezes maiores do que a média para as aves do mesmo peso. O globo ocular das corujas é relativamente maior ao dos humanos, mesmo numa coruja de porte médio como a Corujinha Amarronzada (Strix aluco ,Tawny owl) o comprimento total do olho excede ao do olho humano. Por estes meios, a quantidade de luz entrando no olho é aumentada, de maneira que uma maior captação de luz refletida chega até a retina.

As corujas tem olhos frontais, e o efeito é acentuado pelo fato de que seus bicos, ao contrário dos das outras aves de rapina, são desviados mais ou menos para baixo, para evitar que obstruam seu campo de visão. Elas tem um campo visual bem estreito de 110°, dos quais 60° a 70° é sobreposto. Olhos situados frontalmente dão um considerável grau de visão binocular, mas os olhos por eles mesmos são praticamente imóveis, possuindo apenas 1° de movimentação para que a retina não seja sobrecarregada com luz causando “cegueira branca” o que pode acarretar marcas em sua superfície dificultando a exata localização de suas presas.


Para a Corujinha Amarronzada, a área da binocularidade é estimada em apenas 48°. -> As corujas precisam girar a cabeça inteira para olharem para os lados, mas elas tem uma habilidade excepcional de girarem a cabeça; a espécie Coruja de orelha (Asio otus, Long-eared owl) é capaz de girar a sua cabeça pelo menos 270º. As corujas compensam a falta de movimentação ocular, girando suas cabeças até 270°. Como o homem, as corujas utilizam sua visão binocular efetivamente, olhando para um objeto com ambos os olhos de maneira a estimar sua posição precisa. Isto é conhecido como o método paralaxe, e se torna mais efetivo quanto maior for a distância entre a córnea e a retina. As corujas maiores tem seus olhos bem espaçados, e parece que as espécies menores, por terem crânios mais chatos, desenvolveram o máximo possível, do ponto de vista físico, um largo espaço interocular.

As corujas podem melhorar ainda mais a sua visão tridimensional por constantemente moverem e balançarem a cabeça. O movimento de balançar a cabeça das corujas pode ser encantador, mas este peculiar comportamento é totalmente baseado no controle visual. Ao balançar a cabeça lateralmente (de um lado para outro) elas estão analisando a largura do objeto, e quando movem a cabeça para cima e para baixo, estão analisando a altura, ao moverem a cabeça em círculos, as corujas estão localizando tridimensionalmente o objeto.

Estudos anatômicos da realizados com Corujas Buraqueiras (Athene cunicularia) têm revelado que a integração binocular dos inputs visuais de ambos os olhos ocorrem no córtex visual, em uma estrutura específica chamada de wulst visual. Isto parece ser muito similar ao córtex estriado, o qual intermedia a visão binocular. O Wulst varia em tamanho e é diretamente proporcional à extensão do campo visual binocular. Estudos eletrofisiológicos tem demonstrado que o wulst da Coruja de Igreja (tyto alba/furcata Tyto furcata) tem uma grande quantidade de neurônios seletivos para disparidade binocular, um pré-requisito para a estereopsia. Testes científicos provaram que a sensibilidade visual de uma Coruja de Igreja é pelo menos 35 vezes melhor do que a humana.

O número de células sensíveis a à luz (bastonetes) na retina é muito alto, e isto aumenta tanto a acuidade visual da coruja em baixos níveis de iluminação. Não é surpreendente que todas as corujas tenham adaptação à escuridão, como ocorre com as espécies brasileiras. As espécies de hábitos noturnos podem apresentar maior concentração de bastonetes variando entre 46.000 e 56.000 por milímetro quadrado. As espécies noturnas podem ser observadas atuando ao longo do dia principalmente no início de seus períodos reprodutivos. Por outro lado, muitas corujas, como a Corujinha Pigmeu da Eurásia (Glaucidium passerinum, Eurasian pygmy owl) e a Coruja Buraqueira, são capazes de caçar na luz do dia, A Corujinha Pigmeu da Eurásia tem uma visão diurna melhor do que a humana. Isto é possível pela excepcional gama de tamanhos de abertura das pupilas, controlada pela íris.

As corujas, bem como as demais espécies de vertebrados, conseguem enxergar cor, devido a presença de estruturas chamadas de cones em suas retinas. Experimentos na Mocho Galego (Athene noctua, little owl) demonstraram que esta espécie pode ver pelo menos amarelo, verde e azul, mas ela confundiu o vermelho e o cinza escuro. As corujas mais diurnas como a Corujinha Pigmeu da Eurásia (Glaucidium passerinum) são capazes de distinguir cores.

Nas corujas a sensibilidade de ultravioleta está ligado com a identificação de presas e indivíduos intraespecíficos, como na maioria das aves de rapina diurnas, tais como o falcão peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), os quais são conhecidos por usarem a sua visão no ultravioleta para localizarem tocas de roedores, através da reflexão de ultravioleta das fezes e urina deixados nas entradas. Mas como medida anti-predatória, estas espécies de roedores, confundem seus predadores urinando e defecando em tocas afastadas daquelas usualmente frequentadas.

Experimentos de laboratório também confirmaram que as noturnas Corujas de Tengmalm's (Aegolius funereus) não utilizam sua sensibilidade no ultravioleta para acharem áreas de caça adequadas. Novos experimentos com as corujas diurnas Mocho pigmeu (Glaucidium passerinum), estão mostrando que estas podem detectar perto da faixa do ultravioleta e podem usá-la para obter informações sobre a presa da mesma forma que os rapinantes diurnos.


Referência:


Konig, C. & Weick, F. (2008) Owls of the world. 2º Edição. New Haven, Connecticut: Yale University Press. P.16-17

Bowmaker, J. K. & Martin, G. R. (1978). Visual Pigments and Colour Vision in a Natural Bird, Strix aluco (Tawny Owl). Vision Reserch 18:1125-1130.

Bruckner, R. (1994). On the Manners of Seeing and the Interaction of Seeing, Hearing and Touch in Owls. VERHANDLUNGEN der NATURFARSCHENDEN GESELLSCHFT in BASEL 104(0):1-18.

Dice, L. R. (1945). Minimum Intensities of Illumination Under Which Owls Can Find Dead Prey by Sight. American Naturalist 79(784):385-416.

Fine, K. (1973). Anatomical and Behavioral Correlate as of Visual Acuity in the Great Horned Owl. Vision Reserch 13:219-230.

Finger, E. & Burkhardt, D. (1994). Biological Aspects of Bird Colouration and Avian Colour Vision Including Ultraviolet Range. Vision Reserch 34(11):1509-1514.

Fite, K. (1973). Anatomical and Behavioral Correlates of Visual Acuity in the Great Hornet Owl. Vision Reserch 13:219-230.

Knudsen, E. I. & Knudsen, P. F. (1985). Vison guides the adjustment of auditory localization in young barn owls. Science 230:545-548.

Koivula, N.; Korpimäki, E. & Viitala, J. (1997). Do Tengmalm’s Owls see Vole Scent Marks Visible in UV?. Animal Behavior 54:873-877.

Konishi, M. (1973). How the Owl Tracks its Prey. American Scientist 61(4):414-424.

Mahecha, G. A. B. & Oliveira, C. A. (1998). Um novo osso na esclera dos olhos das corujas e seu papel na contração da membrana nictitante. XXII Congresso Brasileiro de Zoologia. resumo 1142.

Martin, G. R. & Gordon, I. E. (1974). Increment-Thresshald Spectral Sensivity in the Tawny Owl (Strix aluco). Vision Reserch 14:615-621.

Martin, G. R. & Gordon, I. E. (1974). Visual Acuity in the Tawny Owl (Strix aluco). Vision Reserch 14:1393-1397.

Martin, G. R. & Gordon, I. E. (1975). Eletroretinographically Determinated Spectral sensitivity in the Tawny Owl (Strix aluco). Journal Comparative and Physiology Psychology 89(1):72-78.

Martin, G. R. (1974). Colour Vision in the Tawny Owl. (Strix aluco). Journal of Compative Physiology Psychology 86(1):133-141.

Martin, G. R. (1982). An Owl’s Eye: Schematic Optics and Visual Performance in Strix aluco. Journal os Comparative Physiology 145:341-349.

Martin, G. R. (1984). The Visual Fields of the Tawny Owl. Strix aluco. Vision Reserch. 24(12):1739-1751.

Martin, G. R. (1986). Sensory capacities and the nocturnal habit of owl. Ibis 128: 266-177.

Murphy, C. J. & Howland, H. C. (1983). Owl Eyes: Accommodation, Corneal Curvature and Refractive State. Journal os Comparative Physiology 151:277-284.

Payne, R. S. & Drury-Jr, W. H. (1958). Marksman of the Darkness. Natural History 67:316-323.

Schaeffel, F. & Wayner, H. (1992). Barn Owl have symmetrical accommodation in both eyes but independent pupillary responses to light. Vision Reserch 36(6):1149-1155.

Viitala, J.; Korpimaki, E.; Palokangas, P. & Koivulla, M. (1994). Attraction of Kestrels to Vole Ultraviolet Light. NATURE 373:425-427.

Wagner, H. & Schalffel, F. (1991). Barn Owls (Tyto alba) use accommodation as a distance cue. Journal of Comparative Physiology A 169:515-521.

Yew, D. T.; Woo, H. N. & Meyer, D. B. (1977). Further Studies on the Morphology of the Owl’s Retina. Acta Anatômica 99:166-68.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Saiba tudo sobre a Egagrópila

Papo de criador: André Schuarts do Paradijs Vogel

Como funciona a audição das corujas?