Corujas de igreja no inverno



O frio intenso que estamos vivenciando no Brasil atualmente afeta as nossas aves de rapina em cativeiro, e especialmente as selvagens. Nestes dias frios é importante controlar bem o peso da sua ave e aumentar a sua ingestão diária de alimento. Um especial cuidado deve ser tomado com aves menores, como os falcões quiriquiris (falco sparverius). Para termos uma ideia de como as corujas sofrem com baixas temperaturas, a seguir temos um texto traduzido sobre as dificuldades enfrentadas pelas corujas de igreja (tyto alba/furcata) na Inglaterra durante o inverno.


Corujas de igreja no inverno


Corujas de igreja originalmente evoluíram em um clima mais quente e seco do que temos no Reino Unido. Talvez não seja surpresa, portanto, que os picos de mortalidade da coruja de igreja na Inglaterra ocorram entre dezembro e março. A principal causa de morte associada com a mortalidade no inverno é a fome. Três dos maiores fatores que afetam a sua sobrevivência no inverno são: clima abundancia de presas e estratégias de sobrevivência.


Clima
Temperatura

Como as temperaturas caem no final do outono e inverno, os pequenos mamíferos tornam-se menos ativos. Menos presas ativas fazem muito menos barulho e são, portanto, muito mais difíceis para que as corujas de igreja as encontrem e as capturem.  As corujas de igreja são mal isoladas (não mantem bem a sua temperatura corporal) e precisam de energia extra (alimentação) durante o tempo frio para compensar o aumento da perda de calor do corpo. No inverno, quando a comida é geralmente mais difícil de ser encontrada, é o momento em as corujas de igreja mais precisam de uma boa alimentação.

Chuva
O aumento da precipitação no inverno é um problema também.  As penas das corujas de igreja são muito macias (uma adaptação para o seu voo silencioso) e não muito resistentes à água e, portanto a caça durante a chuva é geralmente evitada. Historicamente, as corujas de igreja foram capazes de pegar camundongos e ratos dentro de edifícios agrícolas durante períodos de mau tempo, mas essas oportunidades são extremamente raras nos dias de hoje.

Neve

Durante os períodos de cobertura de neve, ratazanas e ratos ficam debaixo da neve. Embora os ratos se descoloquem em cima dela, eles gastam uma proporção maior de seu tempo sob a terra comendo alimentos armazenados. Quando a cobertura de neve é maior do que cerca de 70 mm de profundidade e / ou está congelada, as corujas terão grande dificuldade em encontrar e pegar comida. É em momentos como estes que algumas corujas de igreja irão temporariamente buscar fontes de alimentos incomuns, tais como pequenas aves.

Abundância de presas 

Apesar de que baixas temperaturas, precipitação e cobertura de neve podem ter um impacto sobre a sobrevivência das corujas, eles são geralmente muito menos importantes do que a abundância de presas. O longo estudo da Dr Lain Taylor na Escócia demonstrou que a sobrevivência das corujas de igreja estava muito mais ligada aos números de ratazanas do que ao clima do inverno.  Invernos com um clima moderado e baixa abundância de ratazana produziu mais mortalidade nas corujas de igreja do que os invernos rigorosos com grande abundância de ratazanas.


Estratégias de sobrevivência

Familiaridade com seu Habitat

O conhecimento altamente detalhado da coruja sobre o seu habitat pode significar a diferença entre a sua morte e sobrevivência. Durante um intervalo no tempo severo, uma coruja de igreja que conhece bem a sua área pode voar diretamente para um local com vegetação ideal, aumentando suas chances de sucesso ao localizar presas.
O conhecimento do seu habitat é tão importante que as chances de uma coruja de igreja abandonar o seu local habitual para fugir de condições de clima extremas são extremamente pequenas.  No entanto, ela pode utilizar partes de sua área que não costuma visitar muito no verão. Ela também pode ter áreas de repouso preferidas no inverno, próximas a áreas onde é mais fácil encontrar alimento.

Conservando Energia

Em clima muito frio, as corujas de igreja são mais inclinadas a usarem poleiros, tais como postes de cercas para caçar, ao invés de caçar do ar. Isso economiza a energia que seria utilizada no voo e reduz a perda de calor (uma coruja de igreja em voo perde muito mais calor corporal do que uma empoleirada). Elas também podem conservar uma considerável quantidade de calor ao ficarem empoleiradas em um lugar quente e / ou sem correntes de ar, como um espaço entre uma pilha de fardos ou um espaço de nidificação construído em uma casa.

A mudança nos padrões de atividade

Embora seja maravilhoso assistir uma coruja de igreja caçar durante o dia, muitas vezes isso significa que a coruja está lutando para encontrar comida suficiente. Durante temperaturas abaixo de zero, ratazanas do campo tornam-se menos ativas à noite e mais ativas durante o dia (quando é um pouco mais quente). A fim de pegá-las (e reduzir a perda de calor do corpo) as corujas também podem se tornar mais diurnas.

Historicamente, as corujas de igreja muitas vezes habitavam ou visitavam edifícios agrícolas que estavam infestados com camundongos e ratos. Serem capazes de caçar dentro de ambiente fechado quando as condições eram graves era uma tremenda vantagem. Infelizmente, esta oportunidade se perdeu em praticamente todas as fazendas, devido a alterações na armazenagem da alimentação e do controle de roedores.


Caçando na Neve
Fotos de Ron Dudley 

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Referências



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